sábado, 10 de abril de 2010

Saúde Mental em foco

O ano de 2009 foi marcado pelo início de grandes ações em combate às drogas, principalmente o crack. Apesar da droga já vir preocupando as comunidades que sofrem as consequencias negativas há mais de dez anos, só no ano passado que Governo e sociedade civil realmente se uniram para discutir os problemas e encontrar soluções, partindo da idéia de que se trata de uma questão social e de saúde e não apenas de segurança.

Em meio à essas discussões, os olhares de todos se voltaram para um segmento da saúde que boa parte da sociedade prefere não se envolver, a Saúde Metal. É a rede de saúde mental que atende, trata e tenta reinserir as pessoas com transtornos mentais – incluíndo usuários de drogas lícitas e ilícitas - pelos serviços, comunidade e cidade, e oferece cuidados com base nos recursos que a comunidade oferece.

Essa rede é composta por Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e os leitos de atenção integral (nos CAPS III, Hospitais Gerais - onde em muitos os leitos da ala da saúde mental é isolada das demais alas, chegando a ter grades nas portas e janelas como uma prisão).

A Política Nacional de Saúde Mental, apoiada na lei 10.216/02, busca consolidar um modelo de atenção à saúde mental aberto e de base comunitária. Segundo a Portaria/GM nº 336, de 2002, dentro do Serviço de atenção psicossocial para atendimentos a crianças e adolescentes, incluem-se atividades comunitárias enfocando a integração da criança e do adolescente na família, na escola, na comunidade ou quaisquer outras formas de inserção social (Art. 4º).

Nesse sentido, a CUFA vem participando de debates e grupos de trabalho com o objetivo de contribuir com atividades sócioeducativas e de inserção social voltados para o público da rede de saúde mental. Em 2010, essa parceria vem se consolidando através da realização das Conferencias Municipais e Estaduais de Saúde Mental, onde a CUFA, em diversas cidades brasileiras, está expondo sua metodologia de trabalho e apoiando o fortalecimento da rede de saúde mental.


Entrada para a Conferência

Saúde Mental em Cachoeira do Sul

Em Cachoeira do Sul, a III Conferencia Municipal de Saúde Mental aconteceu no dia 07 de abril, Dia Mundial da Saúde, com a participação de todos os segmentos da sociedade, seguindo o tema deste ano que é Saúde Mental e Intersetorialidade.


Dentre os painelistas, estiveram a psicóloga Vera Sebben, da Direção de Atenção a Usuários Moradores – DHC e SSMN – DAS/SES Rio Grande do Sul; a também psicóloga Clarisse Maciel Fuentes, Coordenadora do Departamento de Saúde Mental da 8º Coordenadoria Regional de Saúde e os representantes locais, a enfermeira Núbia Mara Lopes Bastos, Coordenadora de Serviços de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde; a assistente social Itaíra Regina Morais, do CAPS II; o enferemeiro Igor Rafael Medeiros e a assistente social Mariele Teixeira do Hospital de Caridade e Beneficencia – HCB; a psicóloga Márcia Pedroso, da SUSEPE; a assistente social Marta Caminha, Diretora da Secretaria Municipal de Trabalho e Ação Social – STAS; a assistente social Lídia Mara Gonçalves e a psicóloga Pulcina do Ambulatório Vida, setor de redução de danos da Secreatria Municipal de Saúde e Meio Ambiente.

Durante os painéis, foram divulgados dados surpreendentes da realidade da Saúde Mental do Município. Segundo a Coordenadora de Serviços de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Núbia Mara, há 7.324 pessoas com transtornos mentais cadastradas no Centro de Atendimento Psicossocial na cidade. Dentre eles 137 são crianças.

Mas, outros números ainda mais impressionantes é que vem mobilizando a sociedade em torno da Conferencia e da rede de atendimento à saúde mental. De acordo com Marta Caminha, Diretora da Secretaria de Trabalho e Ação Social, 20% da população cachoeirense é usuária de crack.

Só no mês de março o HCB recebeu 35 pedidos de internação na ala de saúde mental, segundo o enferemeiro Igor Rafel Medeiros. Desses, 24 eram para desintoxicação do crack, sendo 8 adolescentes.

Prevenção e Cidadania

Devido a esses números, vem-se questinando a forma como Estado e sociedade civil estão tratando os assuntos relacionados às drogas. Todos os painelistas da Conferencia sitaram que o mais importante de tudo para a redução desses índices é a prevenção e a garantia da cidadania.

A falta de acesso aos diretos básicos, como educação, saúde, cultura, esporte e lazer continua sendo a principal causa do uso e tráfico de drogas em todo o país. O desemprego empurra jovens e adultos para o tráfico enquanto a exclusão e a falta de oportunidades para as crianças e adolescentes os levam ao consumo.

O fortalecimento do vínculo da pessoa com a família e a sociedade deve ser a base de todo o trabalho. Isto esteve dentro de um dos eixos trabalhados na Conferência Municipal, Redes e Territórios, onde se integram educação, cultura e moradia.

Rodas de conversa foram formadas para discussão e sugetsão de propostas sobre cada eixo. Aqui eixo Redes e Territórios.

Esse eixo, coloca como ação principal, a formação da rede de atendimento que deve ser composta por todos os segmentos da sociedade para o cuidado com as pessoas com transtornos mentais dentro de sua própria comunidade, desenvolvendo aquilo que ela oferece. Não isolando, ou limitando o espaço das pessoas dentro dos centros de tratamento e sim, incluindo-as nos diversos espaços sociais disponíveis para sua recuperação/tratamento e reinserção social.

A CUFA, por desenvolver diversos projetos de inclusão social dentro das comunidades, atua com um importante papel de receber esse público em suas oficinas e ajudar no processo de inclusão/reinserção social, saindo do modelo institucionalizado de tratamento. Segundo a Coordenadora de Serviços de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Núbia Mara a questão está “cronificada no modelo assistencia e ambulatório”.

Resultado da Conferencia

Para a Comissão Organizadora da III Conferencia Municipal de Saúde Mental, composta por representantes das instituições Secreatrias Municipais de Trabalho e Ação Social e de Saúde e Meio Ambiente, Hospital de Caridade e Beneficencia, SUSEPE, Conselho Municipal de Saúde, Conselho Regional de Saúde e CUFA Cachoeira do Sul, o evento foi bastante produtivo, com cerca de 200 pessoas participantes que se mostraram realmente dispostas a construir novas propostas de se enfrentar os problemas estruturais e de metodologia no tratamento e acompanhamento das pessoas com transtornos mentais.

Umas das propostas aprovadas e que já tem data e local para iniciar é a criação de uma comissão intersetorial de Saúde Mental, que realizará fóruns permanetes de discussão sobre o tema. O primeiro encontro está marcado para o dia 10 de maio. A CUFA Cachoeira do Sul fará parte da Comissão, fortalecendo o trabalho de prevenção e inclusão social.

Os próximos passos são a Conferencia Estadual que acontece entre os dias 20 e 22 de maio em São Lourenço do Sul/RS e a Conferencia Nacional em Brasília, entre os dias 27 e 30 de junho de 2010.
CUFA Cachoeira do Sul